Oito Madrigais e uma Natureza Morta toma por inspiração um conjunto de poemas de Inês Lourenço com o mesmo título, incluído no volume A Disfunção Lírica (Lisboa: &etc, 2007). Mais do que um diálogo entre as composições sonoras e os poemas, o que se procura é colocar em destaque continuidades e quebras, sobreposições e disjunções, entre o som e as palavras, explorando o modo como, entre si, ecoam, se repetem e divergem.
Composto, gravado e produzido no Barreiro, entre Novembro de 2017 e Janeiro de 2018, por Fernando Ramalho.

Oito Madrigais e uma Natureza Morta takes inspiration from a set of poems by Inês Lourenço with the same title included in the book A Disfunção Lírica (Lisbon: &etc, 2007). More than a dialogue between the sound compositions and the poems, in this work the aim is to highlight continuities and breaks, overlaps and disjunctions, between sound and words, exploring the way in which they echo, repeat and diverge.
Written, performed and produced by Fernando Ramalho between November 2017 and January 2018 in Barreiro.

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Oito Madrigais e uma Natureza Morta
Inês Lourenço

O novo amante
Talvez só uma forma de desordem
nos gestos quotidianos.

O amante obeso
Ao contrário do que imaginas, ele
é o pleno prazer da carne.

O amante franzino
O teu abraço débil faz o trânsito
para o meu certo futuro.

O amante previsível
Como um cenógrafo exímio renovas
as luzes, mas não te arriscas
em palcos incertos.

O amante venatório
Era o tempo das aberturas:
da caça e dos cintos com chaves
em duplicado.

O amante atlético
Amas-te a amar-me. Da musculação
trazes os melhores preliminares.

O amante infiel
Outro corpo é só
o engodo pleno de todos os já
desejados,

O melhor amante
Feito de homem, de mulher, de tempo, de
ilesos animais. Também de luxúria e de
preguiça, os pecados predilectos. Alguma
justa ira e uma crença inteira
na sua amante inexistência.

Natureza morta
Risco na velha agenda, com
um traço ténue, o teu nome
e morada. É um risco
que nada anula e semelha
uma antiga lápide
que o tempo rasurou.